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quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Luto no esporte de Porto Seguro Morre ex Prefeito Carlos Alberto Souza Parracho 71 anos,
Porto Seguro perdeu hoje um dos seus filhos mais ilustres. Morreu em Belo Horizonte, onde estava internado desde o final de setembro, aos 71 anos, o ex-prefeito Carlos Alberto de Souza Parracho. O velório será na Câmara Municipal.
Parracho foi prefeito por duas vezes, entre 1970-72 e 1977-82, numa época em que Porto Seguro tinha 13 distritos, muitos dos quais hoje já são cidades, como Monte Pascoal e Itabela. Nos últimos anos, travou heróica luta contra uma insuficiência renal que o obrigava a fazer longas e pesadas sessões de hemodiálise.
Sua casa, conhecida como “Senadinho” - há décadas o grande centro de discussão e articulação política da cidade - está de luto e seus freqüentadores inconsoláveis. Parracho deixa 6 filhos, frutos de dois casamentos.
O Jornal do Sol, também enlutado, se solidariza à família e amigos nesse momento de grande dor. A última entrevista de Parracho a um meio de comunicação foi concedida com exclusividade ao Jornal do Sol. Como homenagem, transcrevemos abaixo os melhores momentos desse documento histórico.
PERSONA: Carlos Alberto Parracho
Jornal do Sol, ed. 299, março/10, pág. 08
De sua infância até hoje, como o senhor vê as fases que Porto Seguro passou?
Antes de eu nascer, na década de 1930, Porto Seguro teve uma queda, era uma cidade muito boa, mas caiu nesse período. Foi para a estaca zero. Nas décadas de 1940 a 50, a cidade melhorou. Foi o período do cacau. Na década de 1970, no meu governo e de Manoel Carneiro, era o período do caranguejo, a bacia do espelho, a implantação do frigorífico e da cooperativa de pesca, além da colônia dos pescadores. Essa fase levou Porto Seguro aonde está, quando conseguimos colocar na cabeça das pessoas as oportunidades com o turismo, foi quando demos uma alavancada no setor. Em 1977, a cooperativa de pesca era a mais forte do nordeste. Nesse período de 77/78, a pesca se transformou num grande filão de Porto Seguro. Depois vieram a fase da madeira e do café.
Nós conseguimos, com a entrada de Antônio Carlos Magalhães, criar um pólo madeireiro em Itabela. Naquela época Itabela pertencia a Porto Seguro. Mas quando percebemos que a madeira iria acabar, nós criamos um pólo cafeeiro em Itabela, foram 600 mil mudas de café doadas ao povo. E com a construção da BR 367, que depois se ligou à BR 101, foi dado o grande impulso para o turismo. Manoel Carneiro dizia (ele tinha uma visão muito forte de futro): “Chegou nosso asfalto e as cidades que tiverem asfalto estarão vinte anos na frente das outras cidades do litoral”. E foram 20 anos mesmos, porque só depois desse tempo todo que colocaram asfalto para Mucurí, Caravelas e Prado.
Fale da história de sua família na cidade.
Meu pai era português, mas minha mãe nasceu em Porto Seguro e seu pai era de Ribeira do Pombal. Nossa história aqui passa de um século.
E sua trajetória política?
Na verdade, eu era muito ligado ao futebol, mas acabei entrando para política aproveitando aquele espírito de juventude, de tentar mudar as coisas que estavam erradas. Porto Seguro atravessava fases ruins nas administrações. Nós, jovens, começamos a buscar nosso espaço e a nos meter nos assuntos de interesse público. Vamos citar Romeu Fontana, Antônio Osório, Tonhaca, Zezé (de Bruno), eu e outros. Manoel Carneiro foi quem tomou a frente das coisas. Nós o acompanhamos naquela luta, naquela briga para defender Porto Seguro do descaso que estava acontecendo e, dessa forma, conseguimos tirar um prefeito que havia tomado posse em janeiro, Isidório Gonçalves, que mora até hoje em Caraíva. Ele havia ganhado de Joaozito por apenas 22 votos. Isidório veio do Monte Pascoal e tomou posse em janeiro, mas, em outubro, nós conseguimos tirá-lo. A eleição aconteceu em 1966, e em 1967 já não era mais prefeito. Nesse momento eu era vereador. Manoel Carneiro e Fernandão (Fernando Ricaldi) também.
Como vocês tiraram o prefeito?
Conseguimos tirá-lo porque o prefeito saiu antes de completar dois anos, e como na época não tinha vice, teve que ser marcada uma nova eleição. Aliás, ela foi marcada e desmarcada três vezes, porque Manoel (candidato de seu grupo) estava disparado na frente e quando chegava perto da eleição, o outro grupo mudava a data. Nossos adversários tinham força política com o governador Luís Viana Filho. O político forte da região morava em Guaratinga e tomava conta de Eunápolis e do pedaço todo. Wilson Nunes, pai de Wilsinho, que era juiz, mudava a data da eleição. Eles trocavam de candidato, mas não adiantava, Manoel continuava na frente. Depois de quase um ano nessas remarcações de data, chegou um ponto que não teve mais jeito de trocar e a eleição aconteceu no dia 17 de agosto de 1968. Manoel ganhou e no outro dia tomou posse.
Formamos esse grupo político e, logo em seguida, eu fui candidato, nas eleições de 1970. Eu ganhei. Foi um mandato tampão, de apenas dois anos. Em 1972, apoiamos Manoel, pois não havia reeleição. Em 1976, Manoel Carneiro me apresentou e ganhamos as eleições, novamente. Aí houve uma mudança no tempo do mandato e eu fiquei até 1982. Nosso grupo ficou quase 15 anos no poder. Mas em 82 perdemos a eleição para Valdívio Costa, quando o mandado mudou novamente para 6 anos.
Foi sua primeira derrota nas urnas...
Faziam parte de Porto Seguro Itabela, Monte Pascoal, Montinho e Eunápolis. Era a briga do interior contra a praia, e foi por esse motivo que perdemos a eleição. Foi uma porrada! E olha que fizemos muito por Itabela, Monte Pascoal, Montinho e Eunápolis. Tem Hospital Regional em Eunápolis, quem fez? Fui eu. Em Itabela, quem colocou água encanada, energia, criou o pólo madeireiro, o pólo cafeeiro? Fui eu.
Em 1988, mais uma vez voltou a ser quatro anos de mandato. Disputei contra o Bahiano. Ganhei na sede mas perdi nos povoados que hoje não fazem mais parte de Porto Seguro. Foi a briga do interior contra a praia, uma briga feia que por 220 votos me custou a eleição.
Era mais fácil administrar Porto Seguro naquela época ou hoje?
Quando fui prefeito era mais difícil, porque você tinha 13 povoados e distritos, e mais a sede. Você tinha 4 mil Km² para administrar e não haviam estradas. Basta dizer que a arrecadação em 1980 era de 300 mil dólares por mês, e hoje, gira em torno de 8 milhões de dólares mensais. Com essa pífia quantia que tínhamos na época conseguimos fazer muitas coisas. Quem abriu a estrada Arraial d’Ajuda/Trancoso fomos nós, na picareta, pá e enxada. Na mão do homem! Ainda fizemos quatro ou cinco pequenas pontes para podermos chegar até lá.
Nós tínhamos 13 povoados e distritos, eu botei água encanada e energia em 11, e é o que estão lá até hoje. Deixei apenas duas sem fazer, em Queimado e Caraíva. Na década de 1990 o ex-prefeito João Carlos botou em Queimado e agora, recentemente, Jânio Natal colocou em Caraíva, quase 30 anos depois. De 13 eu coloquei em 11 povoados. Para você ver a estagnação que passamos.
O ex-prefeito Ubaldino Jr e sua família foram seus adversários políticos históricos e fazem parte da lista de prefeitos que o sucederam, deixando a cidade a mercê dessa estagnação, como você mesmo disse. O que o levou a apoiá-lo nas últimas eleições?
Eu fiquei de 1982 a 2004, 22 anos sem ganhar uma eleição. Fui ganhar com Jânio Natal. Mas ele me deu as costas. Esse tipo coisa não se denuncia. Eu fiquei na minha, segurei a peteca. Na última eleição, Ubaldinho me convidou faltando dois dias para a convenção. Procurei minha família e meus amigos de confiança para ouvir opiniões e acabei aceitando. Mas antes ainda liguei para Miguel Ballejo, que considero meu amigo, pois ele ainda era vice de Jânio.
Eu estava isolado da política e todo mundo sabe que a política faz parte da minha vida. Não é uma coisa que a gente pára quando quer. Eu só sei fazer isso e estou 40 anos fazendo, como vou mudar agora? Você vai perdendo, vai brigando, vai xingando, mas você continua no bolo, está envolvido nas discussões. Entrei na chapa de Ubaldino sabendo que ele não era santo, mas minha motivação estava na mágoa que Jânio me deixou e na vontade de voltar a disputar uma eleição. Antes das eleições, Jânio ainda tentou me dar um golpe no partido e, faltando três horas para terminar o prazo, fui descobrir que não estava filiado. Fiquei ainda mais revoltado com Jânio.
Como você avalia a administração Abade?
As barbaridades que aconteceram tem, pelo menos, uma boa parte de culpa da má administração de Porto Seguro. De pessoas despreparadas, egoístas, vaidosas e prepotentes que cercam essa gestão, incluindo o próprio prefeito.
O que você espera para Porto Seguro?
Espero que apareça um candidato novo, fora desses grupos e caciques que já conhecemos, um filho daqui que venha com boas idéias e tenha compromisso e responsabilidade com Porto Seguro, para trazer de volta o nome da cidade ao cenário nacional e mundial.
Jogo-rápido
Time de coração: Vasco da Gama
Em Porto Seguro gosto de ir...: os problemas de saúde me tiraram os últimos dois anos, mas sempre gostei das praias, dos barzinhos, boates, onde tem música e movimento
Prato predileto: escabeche e moqueca
Livros: de preferência autobiográficos
O melhor da cidade: e como já teve coisa boa aqui!...
O pior: a bandidagem
O melhor prefeito de Porto Seguro: Manoel Carneiro
Personagem importante da cidade: Romeu Fontana
Referência política: ACM
Ídolo: no esporte Ademir Menezes, Maria Ester Bueno, Senna e Guga
Felicidade: estar bem consigo mesmo
Tristeza: perder um ente querido
Sonho: Não tenho mais as condições físicas adequadas e nem financeiras para uma campanha, mas ser novamente prefeito de Porto Seguro sempre faz parte dos meus sonhos
Fonte Jornal do sol
fotos abaixo anivesario de Ramalio Mouro arquivos de Geovan Santos
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