Antes de "virar" Jorbison, Maxwell trabalhou na granja
em Camacan. (Foto: Divulgação/Adriano Pereira)
Atrás da porta de ferro levantada por um menino aparece um balcão com galos, frangos congelados e outros no forno, além de alguns poucos alimentos à venda. O que seria apenas um misto de granja com mercadinho em Camacan guarda a história de Maxwell Batista da Silva, que usou a identidade de Jorbison Reis dos Santos para reduzir a idade em dois anos para chegar até o Flamengo, em 2006.
Antes de ser gato, "Café", como Maxwell é chamado por amigos e familiares, depenou muita ave para ajudar no sustento da família. Até que um dia, Neemias Batista quis fazer do sobrinho a galinha dos ovos de ouro, e aceitou a adulteração da identidade do ainda menino pobre de Camacan. Atualmente, o tio do jogador e dono da granja vive sob o medo das consequências que o caso pode causar.
- Prefiro não tirar fotos, essas coisas. Ele (Maxwell) não aguentava mais a pressão, o peso que carregava – afirmou Neemias, que assumiu o papel de “pai” de Maxwell e responde como responsável pelo jogador desde que Onaldo Pereira, pai biológico, abandonou a família.
Maxwell com a mãe e irmão na praia, ainda no tempo
de jogador de Flamengo. (Foto: Reprodução / Twitter)
Irmão de Maxwell, Tácito Batista chegou a fazer a mesma escolinha no sul da Bahia, dirigida por Carlinhos de Camacan, mas desistiu da bola e atualmente ajuda com os afazeres da granja da família.
- Ih, ele está deixando o cabelo crescer. Tem alguns meses que não o vejo – disse Tácito, ao ver uma foto recente do irmão.
No momento em que o assunto do gato vem à tona, Tácito engole a seco, desvia o olhar e faz alguns rabiscos em um pequeno pedaço de papel que serve para anotar pedidos de clientes. Em companhia da mãe, o irmão do lateral-esquerdo chegou a conhecer a Praia da Barra, zona oeste do Rio, quando Maxwell se apresentava como Jorbison e atuava pelo Flamengo.
Quando é avisado da presença da reportagem do GLOBOESPORTE.COM na pequena cidade, Neemias Batista encosta seu Fiat Uno branco em um larguinho próximo à granja. Em seguida, chama Tácito para se inteirar sobre qual assunto seria tema da entrevista. Pouco depois, Neemias pede que um de seus irmãos, um policial militar, acompanhe a conversa sob a sombra de uma árvore e longe do olhar dos curiosos.
(Foto:Janir Jr./Globoesporte.com)
Logo fica claro o medo com a repercussão do caso do gato. Neemias desconversa, tenta insinuar que a culpa é do empresário, destaca que responde por Maxwell, evita qualquer revelação mais aprofundada sobre o caso e não toca no nome da mãe do jogador, Marta da Silva, que, apesar de não aprovar a troca de identidades, sabia de toda a polêmica história.
- Quando me contou a verdade, o Maxwell admitiu que a mãe verdadeira dele (Marta da Silva) sempre era retirada de Camacan quando eu ia à cidade porque ela não conseguiria manter a mentira na minha frente – declarou o empresário Adriano Luis Pereira, que garantiu também ter sido enganado.
Em meio aos documentos ligados a Maxwell e ao verdadeiro Jorbison também consta a identidade de Neemias Batista.
Além da mãe, quase toda família de Maxwell ainda reside em Camacan, como primas, tios e primos. Enésio, um deles, é filho de Neemias e também trabalha na Granja. Mas lembra com saudosismo de quando conheceu o Rio, em 2006. E também a internet.
- Passeamos e também fomos ao treino do Flamengo. Lá (no Rio), saía um monte de coisa do Café na internet.
“Gato” arrependido: palavra de Maxwell, o verdadeiro Jorbison e confissão oficial
Na semana passada, o GLOBOESPORTE.COM deu início a uma série de reportagens com o caso da ex-promessa do Flamengo, que chegou ao clube em 2006 e se passou por Jorbison, mas na verdade se chama Maxwell:
- Eu me converti, preciso me batizar e não posso mais mentir. Sou gato. Meu nome é Maxwell, e não Jorbison – disse o jogador, no início deste ano.
O jogador fez sua confissão, sempre com declarações que deixam claro seu engajamento evangélico para reconhecer os erros do passado:
- Poucos tomariam essa atitude, só tomei porque senti que era de Deus. Isso me faz muito bem hoje.
Enquanto isso, o verdadeiro Jorbison Reis dos Santos vive um drama em Camacan, interior do sul da Bahia: o sonho de ser dançarino deu lugar ao catador de papelão.
Depois de revelar a farsa do gato, o jogador fez confissão pública. No dia 28 de dezembro de 2011, Maxwell Batista da Silva foi ao Cartório do 1º Ofício de Notas, no Rio de Janeiro, e relatou ao tabelião de plantão a farsa que levou adiante por quase seis anos.
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