A equipe do São Francisco do Conde disputou na terça-feira, 4, o jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil de Futebol Feminino e acabou derrotada por 5 a 0 pela Ferroviária-SP e eliminada da competição. No entanto, uma situação repudiante de preconceito marcou a partida.
Ainda no gramado da Arena da Fonte, na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, as jogadoras do time baiano ouviram insultos bairristas e racistas vindo das arquibancadas, por parte da torcida do time da casa, antes, durante e principalmente depois do apito final.
Além disso, cerca de 40 torcedores do time paulista agrediram a delegação do São Francisco, arremessando um sapato e uma garrafa de água. Uma bateria de celular foi atirada no campo, e atingiu o técnico Mário Augusto, que levou um corte no rosto.
Em entrevista ao Uol Esporte, a lateral Norma comentou que, além dos xingamentos de "porcos" e "miseráveis", os torcedores paulistas ofenderam as jogadoras pelo fato de serem nordestinas.
"Eles falavam que 'nordestino tinha que sumir do mapa' que a gente 'comia ração' e que 'nordestino era a vergonha do país'. Foi uma coisa horrível", relatou a atleta, que disse ainda ter levado uma cusparada no rosto..
Mário Augusto acusa a arbitragem de ser conivente com a situação e que o árbitro sequer relacionou na súmula da partida os gritos e menções preconceituosas da torcida do time paulista.
"Nós avisamos a quarta árbitra sobre o comportamento agressivo dos torcedores, mas ela disse apenas 'não liga, não', 'isso é besteira', 'deixa para lá'", disse o treinador.
Mário Augusto, um dos principais colaboradores do futebol feminino na Bahia, divulgou um comunicado oficial apelando para o fim do preconceito no futebol, o que foi apoiado pela Federação Baiana de Futebol (FBF) (veja íntegra de nota abaixo).
De acordo com a entidade, o caso foi relatado na CBF e no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), e segundo o presidente, Ednaldo Rodrigues, a FBF vai tomar todas as providências necessárias para que o caso seja julgado pelo Tribunal.
E você, torcedor, acha que, mesmo com as atitudes da torcida, o clube deve ser disciplinado? Somente os dirigentes são responsáveis? As federações e confederações têm obrigação de identificar e punir os criminosos? Vote na enquete abaixo e contribua com sua opinião.
Comunicado divulgado por Mário Augusto, técnico do São Francisco do Conde
Bom dia,É com muita tristeza que informamos a nossa derrota na partida de volta das 4ª de finais da Copa do Brasil e, com mais tristeza ainda, informamos que reconhecemos a qualidade da equipe da Ferroviária de Araraquara.
Mas não podemos aceitar é que, desde que entramos em campo para o aquecimento, a nossa equipe era agredida de maneira humilhante, pois nos chamavam de 'nordestinos', 'pobres miseráveis', 'porcos' e que 'o Nordeste tinha que sumir do mapa'. Até aí tudo bem... Pedi às atletas que não dessem atenção. Após o início da partida, um grupo de mais ou menos 40 torcedores ficou atrás do nosso banco de reserva, cerca de três metros de distância, ficou a partida toda nos agredido de forma humilhante, pois nos chamavam de parte suja do país e o pior diziam que: TODO NORDESTINO TINHA QUE SER EXTERMINADO DO BRASIL. Isso era dito desde do inicio da partida até o fim.
Como percebi que isso não era um xingamento normal dentro de um estádio de futebol, pedi à árbitra o policiamento (deu para perceber que era cerca de 07 ou 08, no máximo). A mesma me disse que a única coisa que podia fazer era pedir que 02 policias se colocassem próximo ao nosso banco de reserva e, se nos agredissem com algum objeto, eu chamasse a 4ª arbitra para informar. Mas referente às agressões de forma racista e preconceituosa, a mesma não poderia fazer nada.
Mesmo com os policias próximos, esses torcedores não pararam com seus xingamentos preconceituosos. Após o termino da partida, esses mesmos policias foram dar a tradicional proteção ao quadro de árbitros e com isso as agressões passaram a ser físicas, jogando objetos, tanto que, quando percebi que seríamos agredidos com objetos, pedi que nossas atletas e o restante da comissão saíssem mais rápido da proximidade da torcida assim que a árbitra apitasse o fim da partida. Mas nem deu tempo. Quando iniciamos a retirada, os objetos já foram arremessados em nossa direção e, infelizmente, uma bateria de celular pegou em meu rosto e fez um corte acima do nariz.
Automaticamente, me dirigi ao policiamento para mostrar a agressão. Só me pediram que nosso grupo se dirigisse ao vestuário o mais rápido possível, porque eles eram poucos e nada iriam poder fazer, então ficaram na entrada do túnel e não adiantou de nada, pois jogaram até sapato, laranja e garrafa de água.
Fico sem entender o motivo de tanto ódio desses torcedores, pois se o seu time já tinha ganho a partida por que tanto ódio?
Informo que o sr. Fabrício, responsável pelo Esporte na cidade, foi até o hotel onde estávamos hospedados e o mesmo foi pedir desculpas pelo comportamento agressivo e preconceituoso da torcida local.
Outro absurdo foi quando o placar estava 3x0 e o sistema de som do estádio já estava anunciando a classificação da equipe e pedindo aos torcedores que aplaudissem a equipe local antes do fim da partida. Talvez isso tenha sido um dos motivos das agressões.
Mais uma vez, em nome de todo grupo, queremos agradecer pelo grande apoio ao futebol feminino da Bahia por parte da FBF, especialmente ao Sr. Ednaldo Rodrigues.
GRATO,
Mário Augusto
Técnico e coordenador do futebol feminino de São Francisco do Conde"
Fonte Atarde
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