Filhos de imigrantes que encontraram no futebol um meio de subir na vida são a maior esperança da Seleção Suíça na partida de amanhã contra a Argentina, pelas oitavas-de-final da Copa do Mundo. “Esses jogadores tiveram de lutar muito por um lugar ao sol. Eles têm gana”, disse Laurent Ducret, um dos cerca de 80 jornalistas suíços que fizeram do Porto Seguro Praia Resort, na praia de Curuípe, sua base na primeira fase do Mundial.
Oito dos jogadores da seleção nasceram fora da Suíça, sem falar nos filhos de imigrantes de países como Itália e Turquia que já nasceram no país europeu. Desse grupo faz parte o astro Xherdan Shaqiri, que migrou do Kosovo para o país europeu ainda criança, na época da guerra da província com a Sérvia.
Enviado especial ao Brasil da Sportinformation, maior agência de notícias esportivas da Suíça, Ducret conta outra história de superação, a do meia-atacante Admir Mehmedi. “O pai de Mehmedi tinha uma empresa de informática na Macedônia quando estourou a guerra civil e ele perdeu tudo do dia para a noite. Teve de se mudar para a Suíça e trabalhar de pizzaiolo”, disse. “Esse é o tipo de situação em que o filho quer ser bem-sucedido para dar uma vida melhor para a família.”
Para Sandro Compagno, editor de Esportes do jornal 20 Minuten, há diferenças claras no perfil de imigrantes na Suíça. Enquanto alemães, por exemplo, são atraídos por boas oportunidades de emprego como médicos, advogados e publicitários, os refugiados de guerra têm de se contentar com o trabalho em fábricas ou como faxineiros e enfermeiros.
“Um pai suíço é aquele que diz para o filho: ‘Vá para a escola, escolha uma profissão, estude e, depois de terminar a lição de casa, se sobrar tempo, pode jogar futebol’”, brinca Compagno, ele próprio filho de um italiano que se estabeleceu na Suíça. “O imigrante diz para o filho: ‘Você gosta de futebol? Vai lá, tenta sua sorte, quem sabe você fica rico’. Nessas famílias de baixa renda ter um filho jogador de futebol pode ser um meio de ascensão social.”
Ao contrário da França, onde o perfil multicultural de seleções recentes provocou reações da extrema-direita, mesmo na geração vencedora de Zidane, os suíços apreciam a mistura étnica da seleção. “É claro que existe extrema-direita na Suíça, mas a maioria das pessoas gosta deste time, gosta também do retrato que ele mostra do país”, disse Compagno.
Shaqiri, a grande esperança
Boa parte das esperanças dessa torcida está depositada nos ombros de Shaqiri. “Podemos uma vez na vida bater a Argentina e para isso precisamos que Shaqiri mostre algo especial. Ele é o nosso Messi”, disse Marzio Mellini, do La Regione Ticiano, jornal que circula no cantão italiano da Suíça.
Apesar de considerar a Argentina favorita, como a maioria dos analistas, Mellini lembra que essa geração multicultural teve bons resultados em partidas recentes contra o Brasil, Holanda e Alemanha. “A Argentina é um time top do meio para a frente, mas a defesa deles não está no nível da de outras grandes equipes.”
Para bater a Argentina, a Suíça precisa de uma partida “perfeita”, acredita Daniel Visentini, do jornal Tribune de Genève. Para isso, ele acha que o time tem de mostrar progressos mesmo em relação à vitória por 3 a 0 sobre Honduras, no dia 25. “Temos de ser honestos. No segundo tempo contra Honduras eles tiveram quatro ou cinco chances de marcar. A Argentina teria transformado em gols metade dessas chances.”
A receita de Visentini para a partida perfeita inclui um time compacto e com transição rápida da defesa para o ataque. Apesar disso, ele não acha que o treinador Ottmar Hitzfeld vá mudar o atual esquema tático, mais ofensivo do que o tradicionalmente adotado pela Suíça. “O time vem jogando assim desde 2011.”
E como parar o astro Messi? “Isso é uma coisa que os maiores times do mundo já tentaram, mas quando Messi está inspirado é muito difícil marcá-lo. É preciso marcar quem está a volta de Messi, tirar o espaço dele”, afirmou Visentini.
O jornalista acredita que, se há respeito da Suíça pela Argentina, o mesmo ocorre do outro lado. Segundo Visentini, logo que ficou definido que as duas seleções se enfrentariam, o volante suíço Valon Behrami recebeu um SMS do atacante argentino Gonzalo Higuaín, seu colega de equipe no Nápoli da Itália. “Higuaín escreveu: ‘Que legal que vamos nos enfrentar. Com certeza será difícil para nós.'”
Daniel Visentini
Laurent Ducret
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