
O verde, o branco e o grená que imperam na decoração da sala de estar dão a pista. O endereço da casa também é sugestivo: Rua Coelho Netto, em Laranjeiras, de cara para o Fluminense Football Club. O sobrenome dá o veredito: não por coincidência, é o mesmo que batiza a rua, Coelho Netto e também o mesmo de João, o atleta que, sob o apelido de Preguinho, virou lenda ao ganhar 357 medalhas em dez modalidades pelo Fluminense e marcar o primeiro gol da Seleção Brasileira em Copas do Mundo. Dona Zuleika Coelho Netto é tricolor de coração. E de corpo e alma também.
Tanto que quando ouve o nome do clube que se confunde com a história de seus 98 anos de vida, já enche os olhos e embarga a voz.
— Eu me perco quando falo do Fluminense — se entrega a senhora, que foi casada com Paulo, irmão mais velho de Preguinho.
Por ter sido testemunha ocular de quase todos os Fla-Flus da história, Zuleika é fonte confiável quando o assunto é o clássico mais tradicional do Rio, que completa 100 anos em 2012.
— Sempre tinha briga. Laranjeiras ficava lotada. Todos se arrumavam com roupas bonitas para ver o Fluminense jogar e acaba-
vam na pancadaria dentro do gramado — conta Zuleika que, entretanto, fecha a cara quando ouve o nome do rival — Flamengo? Não fala esse nome que a nossa conversa fica ruim!
Mesmo preferindo a elegância da época de Preguinho aos “pontapés dos tempos de hoje”, Zuleika acompanhou
Emmanuel, o mais velho, virou jogador de futebol e participou do tricampeonato carioca de 1917 a 1919, mas morreu por conta de uma ferida adquirida em campo, aos 24 anos. Preguinho ganhou títulos em dez modalidades e virou lenda do esporte brasileiro. Já Paulo, marido de Zuleika, não tinha muito jeito para a bola: historiador e poeta, escreveu o livro “História do Fluminense”.
Mesmo com toda a fidelidade ao Tricolor, há espaço para um flamenguista na família. Gabriela, neta de Zuleika, é Fla, para desgosto da avó, que descobriu durante a entrevista:
— Ela é Flamengo? Tenha a santa paciência!
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