A improvável goleada russa, placar mais
elástico na história da abertura das Copas, pode ser definida por uma palavra:
imposição. Do início ao fim, os russos mandaram na partida controlando não
apenas a si mesmos, mas o adversário, uma impotente Arábia Saudita que em nada
se pareceu com o time que conseguiu a classificação para a Copa. A goleada,
aberta em cobrança de escanteio, foi construída sem força.
Stanislav Cherchesov abandonou a ideia de
jogar com 5 zagueiros e a Rússia montou um 4-2-3-1, testado nos jogos
anteriores à Copa. Com Zhirkov e Mário Fernandes nas laterais, a ideia do
técnico era concentrar Golovin, Dzagoev e Samedov, o trio mais técnico do time,
perto da linha de defesa da Arábia, que veio a campo no tradicional 4-1-4-1 que
o técnico Juan Antonio Pizzi adota.
O scout da FIFA nos diz que a Rússia teve apenas 40% de posse
de bola e completou quase metade de passes que seu rival: 240, contra 442. Um
absurdo, contra um time tecnicamente inferior? Não. O jogo é fluído. Seus
aspectos - táticos, físicos e emocionais - se conversam entre si como um
organismo. A Rússia sabia que usar de seu físico seria um caminho mais
confiável para a vitória. E que a fraqueza da Arábia estava em ter pouca
criatividade ao ter a posse de bola e demorar a chegar ao gol.
O jogo se torna um confronto de quem tem e quem não tem a
bola. Quem tem a bola, ataca. Quem não tem, defende. Por hoje, a lógica foi
invertida. A Rússia atacou especialmente nos momentos onde não tinha a posse de
bola e pressionava, com bastante intensidade, o saudita que tentava jogar. O
mecanismo tem razão de ser. Quem joga precisa abrir o campo, pensar em como
desorganizar o adversário. Jogadores avançam metros acima, ficam perto da área,
tentam se movimentar.
Aproveitar das possíveis fraquezas quando um adversário está
se concentrando na dura missão de enfrentar uma defesa é o que a Rússia fez
durante todo o jogo. O futebol reativo, que já foi explicado aqui, sempre foi a
lógica dos times menos talentosos ao enfrentar poderosos. A Rússia é
inegavelmente mais talentosa que a Arábia, mas entendeu que produzia mais
vantagens para si usando de seu poder físico ao recuperar a posse de bola e
correr nos espaços vazios. Assim saíram dois dos cinco gols. Outros dois saíram
de bolas paradas, onde novamente a valência física entra em campo para ditar.
Foto: André Durão
Por Leonardo Miranda / G1
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